“In 1962 no one had heard of The Beatles. No one expected to be famous who was not born rich or titled. And there was no such thing as youth culture.”
É com essas palavras que começa We’ll Take Manhattan. O filme se passa na Londres do começo da década de 1960, onde o jovem fotógrafo David Bailey decide deixar o estúdio de John French, no qual era assistente, para começar a tirar suas próprias fotos e fazer as coisas do seu jeito. Ele passou a trabalhar no John Cole’s Studio Five, onde começou a definir seu estilo.
Algum tempo depois, Bailey é contatado por um editor da Vogue que quer contratá-lo. A princípio, ele não aceita (E AINDA DIZ QUE NINGUÉM LÊ VOGUE!!!!! GENTE, PFVR, MORRI OU MORRI?), alegando que o cachê é muito baixo. Ao desligar o telefone, Jean Shrimpton aparece e Bailey troca algumas palavras com ela. Mal sabia ele que ela se tornaria sua musa. Mais um telefonema, um aumento no cachê e Bailey era da Vogue.
Bailey se lembrou de Jean e trabalhou com ela em um editorial de noivas. Eventualmente, eles viraram amantes. Sim, amantes, pois Bailey era casado. Depois de levá-lo para passar a noite no celeiro de sua casa (aka fazenda), Jean é expulsa de casa pelo pai e vai morar com Bailey. Logo depois, ele é convidado para participar de um novo projeto da Vogue.
Young Idea Goes West era sobre os jovens. A revista percebeu que o público jovem queria algo diferente, que tivesse a sua cara e, portanto, precisava de um fotógrafo jovem para fazer algo a altura. As fotos seriam feitas em Nova York com a supervisão de Lady Clare Rendlesham, a editora de moda. Bailey disse que toparia se Jean fosse a modelo. Houve protestos por parte da staff da Vogue que achava que Jean não condizia com a imagem da revista e não era adequada para modelar. Mas Bailey bateu o pé e conseguiu convencê-los. Próxima parada: NEW YORK, NEW YOOOOOOOORK.
Na cidade que nunca dorme, Bailey e Lady Clare bateram de frente. Ele queria tirar fotos inovadoras e ela queria fotos conservadoras. Ele estava cansado da fotografia de moda época: modelos em poses rígidas e impossíveis, sempre com o nariz em pé e em cenários bonitos e impecáveis. Enfim, fotos pouco realistas que só representavam o mundo da moda do jeito que era: extremamente esnobe e aristocrático.
Bailey queria mais. Fotos que mostrassem a realidade: cenários cotidianos, como a rua, mesmo que transeuntes estivessem passando no momento da foto; modelos à vontade, em poses pouco calculadas, modelos que não precisavam ser filhas de alguém importante pra fazer sucesso; enquadramento não tão certinho etc. Até o seu equipamento era diferente: uma câmera de turista, como bem disse Lady Clare, ao invés de uma câmera profissional. Bailey queria mudança. Bailey queria quebrar a tradição. E ele conseguiu.
Aquele editorial, pelo qual Lady Clare se descabelou achando que era errado, vulgar e até mesmo feio, se tornou um marco e mudou a fotografia de moda e o comportamento dos jovens para sempre. Nas fotos, Jean usava alta costura nas ruas, como que para provar a democratização da moda. A partir de então, as fotos ficaram menos controladas e mais espontâneas. A moda se livrou das amarras da aristocracia, deixando de ser para os poucos bem nascidos e passando a fazer parte da vida de todos os que quisessem fazer parte dela, independente de classe social. É engraçado pensar que sim, a moda ainda é pouco democrática nos dias de hoje. Mas quando se vê como era antes e se compara com a atualidade, a diferença é gritante.
Aneurin Barnard, que interpretou Bailey, fez um ótimo trabalho como o fotógrafo de sotaque cockney (um sotaque inglês taxado das classes mais pobres de Londres) que revolucionou toda uma indústria com seu jeito atrevido e agressivo antes de existir a contracultura e antes do jovem ser valorizado e ouvido. Ele convenceu tanto que você simplesmente acha que ele é daquele jeito na vida real (e talvez seja, who knows). Ele tinha 24 anos quando fez o filme (mesma idade de Bailey em 1962) e tem a mesma altura de Bailey. E até o filho mais novo do fotógrafo teve que admitir que Aneurin ficou idêntico a seu pai nos áureos tempos. E vamos apenas relevar que o nome dele parece aneurisma e focar no que importa: o cara é gato.
Eu comecei a assistir o filme só porque era sobre moda, sem saber nada a respeito. E aí BOOM! Karen Gillan happened. Jean foi interpretada por ela (sim, a Amy Pond de Doctor Who). Ela teve que usar uma peruca simplesmente pavorosa. Não que fosse feia, mas era meio dura e era perceptível que não era cabelo de verdade. Karen também não é muito parecida com a Jean de verdade, mas who cares quando se é linda e ruiva? O que deve se ter em mente é que ela interpretou uma das pessoas mais icônicas de um dos períodos mais icônicos de todos os tempos, os anos 60. A pressão de viver a primeira supermodelo ever (e você aí achando que a primeira tinha sido a Twiggy) deve ter sido enorme e acho que ela deu o seu melhor dentro das circunstâncias. E o mais importante: ela ficou bem nas fotos.
O mais interessante desse filme é conhecer as mudanças, o quanto teve que ser batalhado pra chegarmos onde estamos hoje. De uma fotografia totalmente ensaiada e polida pra outra espontânea e livre. Sim, ainda temos que caminhar muito pra uma moda mais acessível, mas é bom saber que se pelo menos uma pessoa quiser mudar, tudo é possível. Então, se você gosta de moda, fotografia e rebeldia (ou se você só quer ver o Aneurin de tight jeans e leather jacket), We’ll Take Manhattan é o filme perfeito!
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