quarta-feira, 22 de março de 2017

Pinky Wednesday: Os filmes de Makoto Shinkai



Existe animação além da Disney. Temos o Studio Ghibli, por exemplo. Mas, no Japão, existe muita animação (e de qualidade) além do Ghibli. É aí que entra Makoto Shinkai.

Makoto é um cineasta japonês que roteiriza, produz e dirige filmes de animação. Eu diria que ele tem uma carreira peculiar, visto que vai desde os longas mais elaborados, aos curtas mais rudimentares, tecnicamente falando. Mas, mesmo assim, sua obra vale a pena porque, independentemente da qualidade da animação, todas suas histórias são tocantes e contemplativas, daquelas que vão te deixar refletindo durante um longo tempo depois de assistir. E ah, quando ele decide fazer alguma coisa bem... Sai da frente que a rainha quer passar.

Seus filmes tratam de temas parecidos, embora cada um tenha uma solução diferente. Encontros e desencontros, acaso e destino, chegada e despedida. Ele junta tudo isso, as coisas pelas quais passamos todos os dias, nosso cotidiano, com ficção científica e até realismo fantástico. Não é incomum termos a presença de corpos celestes como cometas, estrelas e afins, bem como foguetes e naves espaciais. Além, é claro, do misticismo japonês e suas religiões e crenças, como o Xintoísmo. E embora tudo isso se passe num contexto nipônico, com referências completamente distintas das nossas, é impossível não se identificar com uma história ou outra, um personagem aqui e outro ali, porque, acima de tudo, são histórias muito humanas.

O interessante é que os filmes de Makoto parecem ser partes de um todo. Depois de assistir alguns deles, você se pega pensando, comparando, avaliando e, principalmente, sentindo muito (feeling feeligns since 1994). Não sei dizer se ele está fazendo tudo isso conscientemente ou não, mas me parece que sua filmografia é um grande ciclo. Um filme parece ser uma resposta ao outro; um parece ser a continuação de outro e assim por diante. São diferentes faces da realidade porque, afinal de contas, nada é estático. Nós manipulamos e maleamos nossos dias, mesmo que sem perceber. 

Portanto, creio que cada pessoa assiste esses filmes de alguma forma, em alguma ordem. E eu queria mostrar a minha pra vocês, dos filmes que, pra mim, são os principais. Se você ainda não foi iniciado no maravilhoso mundo de Makoto Shinkai, sinta-se à vontade pra começar por onde quiser e, caso queira, pode começar pela minha listinha. Só não esquece de vir comentar comigo o que achou depois, ok?

Voices of a Distant Star
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cries in fangirl language
Em 2047, a Terra está em guerra com os alienígenas que destruíram o projeto de exploração de Marte. Mikako e Noburu são amigos que sempre estudaram juntos, até que ela é selecionada para pilotar uma nave na missão que pretende destruir os aliens. No espaço, sua única forma de comunicação com a Terra é via e-mail, mas conforme ela vai se embrenhando pelos sistemas e galáxias, esses e-mails vão demorando cada vez mais tempo pra chegar. Assim, por mais que cada um esteja sozinho em seu lugar no universo, eles permanecem juntos, em pensamento. Algumas coisas transcendem outras, alguns laços são impossíveis de quebrar... Felizmente.

Esse é um curta do começo de sua carreira e, embora os cenários e a atmosfera sejam lindos (marca registrada do diretor), o character design (ou seja, o desenho dos personagens) é bemmm mal feito. Mas isso se explica por esse curta ser praticamente uma produção caseira, feita por ele e sua esposa meio que na marra. Eles acabaram até dublando os personagens. Mas não desiste não, prometo que melhora!

5 Centímetros por Segundo
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dói tanto, mas tão bonitas as imagem.........
 Takaki e Akari são amigos de escola muito próximos (eu disse que os temas eram parecidos..) que acabam sendo separados quando Akari precisa se mudar. A história é contada em três atos, seguindo as fases da vida de Takaki, desde quando conhece Akari na infância, passando pela adolescência e seus novos amigos, até a fase adulta, quando vemos que Takaki ainda não superou Akari que, além de sua amiga, foi também seu primeiro amor. É interessante perceber como esse encontro entre Takaki e Akari continua afetando suas vidas (principalmente a dele) e, consequentemente, também as daqueles ao seu redor. Mas, ninguém pode dizer que eles não tentaram. Eles continuam trocando cartas e mensagens e tentando se encontrar vez ou outra, mas, ás vezes, não é suficiente. Ás vezes, a vida simplesmente acontece.

Se, após assistir Voices of a Distant Star você persistiu, aqui está sua recompensa. Esse é um dos filmes mais delicados, sensíveis e bonitos que eu já assisti, em todos os aspectos. Porque além de uma histórica que ressona profundamente em muitos de nós, o filme é esteticamente impecável. Os cenários e as paisagens são absurdamente bem feitos e estonteantes. Você vai querer morar dentro desse mundo. 

Your Name
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um tiro desses, bicho
Mitsuha mora em uma pequena cidade do interior do Japão e mal pode esperar pra sair dali. Taki é um garoto normal de Tóquio. Até que, sem explicação alguma, eles trocam de corpo. Isso mesmo, a menina fica com o corpo do menino e vice-versa. Assim que conseguem entender que aquilo é real, eles estabelecem um sistema pra não bagunçar muito a vida um do outro e acabam se tornando amigos... e talvez até algo a mais. Através dessa experiência, Mitsuha consegue, finalmente sair de sua realidade provinciana, ao passo em que Taki entra em contato com a natureza e com a cultura tradicional japonesa. 

Como eu disse acima, não sabemos por que nem como eles trocaram de corpo. Mas, com o passar da história, vai ficando claro o propósito dessa troca e como ela pode mudar tudo. Não, esse não é mais um Sexta-Feira Muito Louca. Aqui, as apostas são inacreditavelmente mais altas e as consequências podem ou não ser devastadoras. Cabe a Mitsuha e Taki perseverarem. 

Makoto fala sobre o ~tempo~ em grande parte de seus filmes. Em Voices, ele é ao mesmo tempo barreira e alicerce. Em 5cm, ele é distância e memória. Mas aqui... Aqui o tempo é o que você quiser fazer dele. É como se ele fosse uma fita que você pode enrolar em seu dedo quantas vezes quiser e de diversas formas diferentes. O tempo é o que você faz dele. 

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Eu comecei esse post falando de ciclos. E eu acho que Your Name encerrou esse primeiro ciclo do cinema de Makoto Shinkai porque tudo culmina aqui. Ele parece ter explorado todas as possibilidades do tempo, que, pra mim, parece ser o ponto central de suas obras. Outro fator que aponta para isso é que esse foi o filme de maior bilheteria no Japão ano passado, entrando para a lista das 10 maiores bilheterias de todos os tempos no país. Além disso, ele foi distribuído internacionalmente e chegou a ser considerado para o Oscar.

Resumindo: foi o maior sucesso da carreira de Makoto, algo que nem ele esperava. Depois disso tudo, imaginem a expectativa pela próxima obra dele? É por isso que acho que a partir de agora, ele vai passar a explorar outros temas e outras formas de contar uma história, podendo mudar completamente seus filmes.

Mal posso esperar para ver o que vem em seguida!








* Muitos desses filmes estão disponíveis online na Netflix e no Youtube