sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

The Grand Budapest Hotel



Muitas pessoas me indicam filmes do Wes Anderson. A questão é que eu assisti alguns desses filmes e não achei nada de extraordinário. Até que um amigo me indicou The Grand Budapest Hotel porque, segundo ele, era a minha cara. Eu simplesmente deixei passar até que semana passada comecei a fazer a maratona pré-Oscar e, como esse é um dos indicados a melhor filme, acabei assistindo (sem saber que era um filme do Wes). Acontece que The Grand Budapest Hotel realmente é a minha cara.

O filme começa com uma garota lendo um livro narrado por alguém conhecido como O Autor. Ele conta a história de uma viagem que fez ao Grand Budapest Hotel quando era mais novo. Logo descobrimos que o principal tema do filme é, na verdade, uma história contada ao Autor por outra pessoa, o dono do hotel. E é aí que a aventura começa.


A história de Zero Moustafa começa quando ele era apenas um simples empregado do hotel, algo como o carregador de malas. Ele acaba se tornando o protegido de Monsieur Gustave H., o concierge do hotel que “entretém” as hóspedes mais idosas nas horas vagas. Acontece que uma dessas mulheres falece (sob circunstâncias misteriosas) e deixa em seu testamento um quadro inestimável para ele. É claro que a família da senhora não fica nada feliz com isso, o que leva o filho mais velho a incriminar Gustave por sua morte. Então, ele busca a ajuda de Zero para escapar da prisão e descobrir o verdadeiro culpado pelo assassinato. Tudo se passa em Zubrowska, um país fictício que enfrenta uma guerra.

A história é super original e completamente louca, de modo que ás vezes fica difícil de acreditar no que acontece (o que, a meu ver, é a maior graça do filme). Ainda assim, existem alguns pontos em que fica claro que muito daquilo foi baseado na vida real e em um período importante na história da Europa, o que torna tudo mais doloroso, principalmente o final. Ao terminar o filme, fiquei com uma certa nostalgia daquilo que nunca vivi. Daquela época do glamour e da elegância. Tenho certeza que vocês conseguem visualizar ao que me refiro.


Como em todos os filmes de Wes, tudo aqui é excêntrico. Desde o suntuoso hotel (cuja fachada é cor de rosa), até os personagens. Cada um mais caricato que o outro (rola até bigode desenhado a lápis) e que, para mim, são o maior charme do filme. Zero e Gustave são tão fofos e bem construídos que é impossível não se importar com eles e criar um certo vínculo. Assim como o próprio hotel, que é tão personagem do filme quanto qualquer outro.

Por se passar em um local fictício, Wes pôde dar umas piradas no cenário e na caracterização (como ele sempre faz). Embora tudo seja crível (vide o quadro do Klimt no chão da casa de Madame D), o perfume da fantasia persiste. Seja pela existência da Sociedade das Chaves Cruzadas, por exemplo, ou pelos eventos mirabolantes que ocorrem durante o filme (que não irei citar porque seria spoiler).     
Acontece que eu assisti esse filme logo depois de ver Boyhood, também concorrendo ao Oscar de Melhor Filme. Pra quem não sabe, esse filme levou doze anos para ser gravado porque o diretor queria acompanhar o crescimento do ator/personagem principal (e, consequentemente, de todos os outros). Pessoalmente, estou torcendo para que o Hotel ganhe, embora ache que Boyhood tem mais chances. A questão é: por que torço por um e não pelo outro?

      

Eu poderia dizer que é porque odiei Boyhood com todas as forças do meu ser (o que é verdade). Mas na verdade é muito mais uma questão de o que cada um representa do que pelo filme em si. Enquanto um vem dessa longa tradição de busca pela realidade, o outro preza, basicamente, pela fantasia. E eu não sou uma dessas pessoas que procura realidade no cinema. Verossimilhança sim - e isso podemos encontrar em The Grand Budapest Hotel - mas realidade pura e simplesmente, não.

Sou do time que pensa: pra que retratar o real (não vou entrar na discussão de que o real nunca vai poder ser apreendido de fato, mas espero que compreendam o que quero dizer) se a vida taí, firme e forte (e é muito mais estranha que a ficção, como já diz o ditado)? Pra mim o cinema tem que ser sobre o fantástico, a ilusão, o sonho. Cenários que não têm compromisso com a realidade (quando muito são apenas alusões aos verdadeiros), figurinos e caracterizações espalhafatosas, trilha sonora teatral etc etc. Mas principalmente o enredo, a história. Para mim o cinema é a arte de contar histórias. 

Por que não nos dar as sociedades secretas de concierges, os roubos de arte internacional, os capangas mal intencionados? Desculpem-me os primeiros beijos, os divórcios, o bullying e tudo mais, mas eu fico com os castelos. Passar bem. 





terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Quero Ser Beth Levitt



Em Quero Ser Beth Levitt conhecemos Amelie Wood, uma garota que ficou órfã quando criança e desde então vem morando num abrigo para meninas. Mas, ao completar 18 anos, Amelie tem que sair de lá e tomar conta de sua própria vida.

Com a ajuda de uma advogada e antiga amiga da família, ela volta a morar na casa dos pais e começa a tocar a vida. O problema é que Amie não sabe nada do mundo! Então arranjar um emprego acaba se tornando uma tarefa praticamente impossível. Até que ela é parada na rua e recebe uma oportunidade única: um teste para um comercial de TV. Porém, depois de muitas reviravoltas, ela acaba sendo escalada. Não para o comercial, mas para um filme!

Doce Acaso é a adaptação do livro favorito de sua mãe, que ela guardou com carinho, lendo e relendo incontáveis vezes durante os anos. Logo ela descobre que vai contracenar com, nada mais nada menos que Chris Martin, um dos maiores galãs da atualidade, de quem sempre foi fã. Mas, essa é apenas uma das surpresas na nova vida de Amie. Todo o livro é recheado de reviravoltas inacreditáveis, no bom estilo Sophie Kinsella de ser.

Vou começar explicitando o único ponto negativo da história porque é tanta coisa boa que não quero perder muito tempo falando do que não gostei. No começo, Amie é muito ingênua. Ok, era de se esperar de uma menina que cresceu num orfanato e não teve muito contato com o mundo exterior. Mesmo assim, é de impressionar que a menina não soubesse o que era um currículo ou até mesmo portas automáticas (tipo as de shopping)! Portanto, ao mesmo tempo em que achava divertidas essas situações nas quais ela se meteu no começo da história, também achava too much. Mas passada essa parte de adaptação, a ingenuidade de Amie tomou um nível aceitável e não me incomodou mais durante o resto do livro.

Amie é uma personagem encantadora. Doce, leal, simpática e muito modesta, ela é o tipo de pessoa que você quer colocar num potinho e levar por aí. Mesmo com todas as tragédias que aconteceram em sua vida (o pai morreu num acidente e a mãe de câncer, anos depois), ela não se tornou uma pessoa amarga nem ressentida. Muito pelo contrário, a lembrança de seus pais e dos momentos que passaram juntos pareciam dar força para que ela continuasse.

Por ser uma pessoa tão incrível, ela conseguiu contagiar os demais quando entrou para o mundo do showbiz. O mais afetado foi, certamente, Chris. Depois de fazer muito sucesso, ele acabou se perdendo um pouco na vida e deixando se levar pela luxúria da profissão. Porém, ao conhecer Amie, ele conseguiu voltar a ser o rapaz mais encantador do mundo *suspiros*. Eu gostei MUITO da pessoa que ele se tornou quando Amie apareceu. Inclusive diria que ele virou um dos meus mocinhos preferidos de todos os tempos.

Fazia muito tempo que eu não lia um romance tão bom assim. Tudo foi muito bem construído, de forma que não rolou insta-love, mas também não foi tão lento e arrastado como muito trelelê por aí. Tudo acontece na base de troca de olhares, gentilezas e muita conversa. Claro que o livro tem muito mais que isso, mas o envolvimento de Amie e Chris é de uma magnitude que nem consigo explicar.

Acho que muito mais do que o romance, esse é um livro sobre a jornada de Amie. Antes de morrer, sua mãe sempre reiterou que a melhor arma de uma pessoa era um coração puro. E durante todos os percalços pelos quais Amie passou, ela nunca deixou o seu coração cair em tentação, procurando sempre se manter com os pés bem firmes no chão. Logo ela, que tanto sonhava em ser a personagem de seu livro preferido, acabou vivendo seu próprio conto de fadas! O final foi, simplesmente, uma das coisas mais lindas que já li e me deixou muito feliz porque era o mínimo que uma pessoa tão especial quanto Amie merecia (notem que já estou tratando como BFF). Fora que teve uma pequena surpresinha que me fez gargalhar e derramar algumas lágrimas ao mesmo tempo.

Esse já é o segundo livro da Sam que eu leio. Não a conheço muito bem, mas posso apostar que muito dela está na Amie e vice-versa (confesso que na minha cabeça, a Amie tem a cara da Samanta! hahaha). Queria agradecer a Sam por esse livro maravilhoso (que entrou pra minha pequena lista de favoritos) e elogiá-la pelo trabalho. É notável o desenvolvimento da sua escrita desde O Pássaro e espero que você continue melhorando sempre!

Caso não tenha ficado claro até agora, recomendo muito Quero Ser Beth Levitt! Você vai rir, chorar e se angustiar, mas no final vai valer muito a pena e você vai terminar com um sorrisinho no rosto!

Termino esse post com uma quote da minha nova melhor amiga, Amelie Wood:

Amie percebeu que tudo em que sempre acreditara era a mais pura verdade, apesar do mundo ter tentado tantas vezes convencê-la do contrário. Que o amor ainda era a força mais poderosa que existia no universo. Que a justiça sempre acabava vencendo. E que os sonhos existiam para serem concretizados. Mesmo que, na prática, eles viessem um pouco diferentes.Na prática, eles eram sempre muito melhores.


PS: Miga, não precisa ser a Beth não. Só de ser Amelie já tá ótimo!