sábado, 17 de agosto de 2013

Norwegian Wood

A resenha de hoje é dupla, porque é sobre um filme que foi baseado num livro, e como eu assisti o filme E li o livro, decidi que seria legal fazer assim. Antes de mais nada, quero avisar que o filme é japonês e que eu vou falar de filmes fora do lugar comum dos blockbusters americanos porque eu amo cinema e tento assistir um pouco de tudo (apesar de ainda não ter perdido meu preconceito com filmes iranianos/iraquianos).
Muita gente tem preconceito com o cinema japonês por achar que só tem filmes de artes marciais estilo Jack Chan e Jet Li ou aqueles do tipo Tigre e o Dragão, que tem saltos impossíveis e golpes que jogam a pessoa do outro lado do mundo. E sim, existem muitos desses. Mas o cinema japonês também tem um lado extremamente sensível que produz filmes de drama poéticos e tocantes. E é assim que Norwegian Wood é.
E quem é fã dos Beatles deve reconhecer o título como uma música deles (e não por acaso). A música é a preferida de uma das personagens e é frequentemente mencionada.
Filme
Eu descobri Norwegian Wood por acaso. Estava assistindo o canal Max pra procurar filmes interessantes pra gravar quando passou o comercial do filme. A cena mostrada era apenas a coisa mais linda do mundo: um casal se encontrando e se separando em meio à neve. Coloquei pra gravar imediatamente e contei os dias pra poder assistir. E bem, eu não me arrependi.
Norwegian Wood é um filme de 2010 escrito e dirigido pelo vietnamita Tran Anh Hung. O personagem principal é Toru Watanabe, um garoto do interior cujos melhores amigos são Kizuki e Naoko, que namoram desde sempre. O mundo deles é interrompido pelo suicídio inesperado de Kizuki em seu aniversário de 17 anos. Assim, Toru muda-se para Tóquio onde começa a cursar a faculdade e não ouve mais de Naoko. Lá, ele estuda Teatro, mesmo sem ter interesse no assunto. Seu amigo e companheiro de noitada é Nagasawa, um estudande mais velho de Relações Internacionais que é um ídolo no campus.
Até que num belo dia, ele encontra Naoko na cidade e os dois tem uma longa caminhada juntos. A partir daí, eles começam a caminhar juntos todos os domingos e eles se tornam mais e mais próximos. No dia do aniversário de 20 anos de Naoko (ela é mais velha que Toru), ele vai a casa dela para comemorar e eles acabam ficando juntos. Porém, no dia seguinte, ela some, deixando apenas uma carta dizendo que foi para um sanatório.
Eventualmente, ele conhece uma menina da faculdade chamada Midori. Ela é extrovertida e desbocada, o oposto de Naoko, que sempre foi tímida e frágil. Eles se tornam amigos apesar de serem muito diferentes e com o passar do tempo, Midori passa a gostar dele, mesmo tendo namorado. Mas Toru ainda ama Naoko. Ao visitá-la no sanatório, seus sentimentos só crescem, mas Naoko parece estar mais frágil do que nunca. Lá, ele conhece Reiko, uma mulher mais velha que é colega de quarto de Naoko.
De volta a Tóquio, Toru não consegue parar de pensar em Naoko, mas ao mesmo tempo, começa a gostar de Midori também. De repente, ele se vê dividido entre duas garotas tão diferentes e não sabe o que fazer.
Não acho que seja prudente contar mais do que isso pra não estragar a história. Tudo o que eu disse aqui está na sinopse e/ou no trailer, então não se preocupem porque não tem spoiler.
Enfim, Norwegian Wood é aquele tipo de filme que além de ter uma história ótima também tem uma fotografia impecável, visualmente lindo. Provavelmente você vai acabar sendo Team Naoko (como eu) ou Team Midori, mas no final, isso realmente não importa porque a questão toda não é com quem ele vai ficar. Na verdade, Naoko representa o passado. O passado que tanto o fez sofrer com a morte do melhor amigo e herói, Kizuki. E Midori é o presente e a esperança de um futuro melhor. É muito mais do que escolher quem vai ser sua namorada. Toru tem que escolher como ele quer levar sua vida dali pra frente. E é assim, aprendendo a lidar com a morte, o amor e a amizade que Toru deixa a adolescência e entra na vida adulta.
Os atores que fazem Toru e Nagasawa são uma gracinha. O que interpreta Toru é muuuito fofo o que só me deixou com mais pena dele por tudo que ele sofreu. E o Nagasawa é MUITO gato. Foram ótimas escolhas porque casaram muito bem com a personalidade dos personagens. Já as atrizes que fizeram Naoko e Midori… Bem, eu não as achei tão bonitas assim, mas elas entraram no papel e convenceram e é isso que importa.
O filme é extremamente delicado, mesmo com uma história tão densa. Mas acho que o diretor não conseguiu passar tudo o que queria, dando a ideia errada do que estava acontecendo, visto que algumas coisas não ficaram claras o suficiente. Porém, eu devo avisar: é tudo muito lento. Pra mim foi ok porque estou acostumada com esse tipo de coisa e estava muito empolgada pra ver o filme, mas muita gente pode desistir na primeira meia hora. Então, se você não gosta ou não está acostumado com isso, pode não gostar do filme.
A trilha sonora do filme foi composta por Jonny Greeenwood, guitarrista do Radiohead. O que eu acho fantástico é que os títulos das músicas são frases do filme! Como por exemplo a “Don’t Read Things That Have Not Had the Baptismo f Time” e “When You Take Me, Take Only Me”. Das 14 músicas presentes, apenas três não foram feitas especialmente para o filme. São músicas da banda Can, lançadas entre 1969 e 1971, mas que mesmo assim tem relação com a história. E Norwegian Wood é tocada no filme por Reiko, pois é a música preferida de Naoko.
Livro
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O livro escrito por Haruki Murakami foi lançado em 1987 e fez um sucesso estrondoso, transformando o escritor em uma celebridade no Japão. Ele foi lançado no Brasil com o mesmo nome (em inglês mesmo) pela Objetiva, mas eu li em inglês. A primeira parte do livro foi inspirada pelo conto Firefly que depois foi incluído na coletânea de contos Blind Willow, Sleeping Woman (que eu estou louca pra ler, diga-se de passagem).
Como eu amei o filme, decidi ler o livro em busca de esclarecimentos para algumas coisas que não foram muito bem explicadas no longa. E foi uma surpresa porque descobri muito mais do que eu esperava. O filme é bem fiel ao livro, ao ponto de ter até frases iguais, mas é claro e evidente que não seria possível incluir TUDO. Assim, personagens e cenas foram cortados e como eu disse acima, algumas coisas ficaram um pouco confusas. Um personagem muito interessante do livro é Storm Trooper (não sei como ficou o nome dele em português), o colega de quarto de Toru, e que aparece brevemente em uma cena do filme, sem nem ser mencionado. Pra quem não leu, passa batido. E algo MUITÍSSIMO importante no livro é a história de como Reiko foi parar no sanatório. Sem ela, uma cena fica totalmente avulsa e pode até ser mal interpretada. E embora eu entenda que nem tudo cabe num filme, acho que foi um erro deixar isso de fora.
Algo muito importante no livro é o movimento estudantil que acontecia em vários lugares do mundo, inclusive Tóquio, na década de 60. Toru não participa disso, mas como acontece em todos os cantos da cidade, até em sua faculdade, ele fica por dentro do assunto. Ele descreve os estudantes como hipócritas e de mente fraca, como se o movimento pra eles fosse apenas um capricho, visto que de uma hora pra outra tudo acabou e eles agiram como se nada tivesse acontecido.
O livro é muito mais profundo e angustiante que o filme. Narrado por Toru, é possível ter acesso a seus sentimentos e sentir junto com ele. Ficar feliz quando algo finalmente dá certo e ficar triste quando tudo vai por água abaixo. A relação dele com Naoko e principalmente com Midori é mais desenvolvida no livro, mas não tão explorada quanto no filme (se é que dá pra entender). O diretor do filme optou por focar a história no triângulo amoroso Naoko-Toru-Midori e por isso tanta coisa foi cortada e a relação deles foi explorada ao máximo. Enquanto no livro, temos mais personagens e cenas só do Toru com o Nagasawa. Mas em compensação, o desenvolvimento emocional dos três é muito maior, tanto que os sentimentos de Toru, que no filme são bem explícitos, chegam a ser questionáveis no livro.
Mas enfim, é por essas e outras que eu acho aconselhável ler o livro e ver o filme pra ter um entendimento completo.
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