Estados Unidos da América. Anos
20. Evie O’Neill, uma garota de uma abastada família do interior, sonha com o
glamour e a fama dos palcos do Ziegfield Follies e das telas de cinema. A sorte
parece sorrir para ela quando se envolve em uma confusão em sua cidade natal
por conta de um poder sobrenatural que deve ser mantido a sete chaves, o que
motiva seus pais a fazerem justamente o que ela queria: mandá-la para a cidade
grande. Evie vai passar uns tempos com seu tio Will em Nova York, até a poeira
baixar em casa. Mas, ela logo vai perceber que nem tudo são flores...
Will é o curador-responsável pelo
Museu do Folclore Americano, Superstição e Ocultismo, também conhecido como
“Museu dos Insetos Rastejantes”, apelido que, por si só, dá uma ideia do quão
entediante esse mundo vai parecer para Evie. Além disso, NY é uma cidade muito
maior do que aquela com a qual ela estava acostumada e, atrelado a isso, vem
não só as vantagens, como os shows do Ziegfield na Broadway e as festas regadas
a álcool escondidas nos porões da cidade, que Evie tanto gosta. NY é, também,
cheia de trombadinhas e charlatões querendo se dar bem em cima dos outros. Mesmo
assim, ninguém esperava (muito menos a inocente Evie) que uma série de
assassinatos baseados em magia negra e ocultismo fossem começar a acontecer. E
ninguém melhor do que o chefe do único museu (da cidade) especializado nesse
assunto para solucioná-los, não é mesmo?
Os Videntes é um livro envolvente. Libba Bray consegue criar uma
teia de mistério e suspense envolvendo esses assassinatos e o sobrenatural. Os
crimes vêm acompanhados de bilhetes e símbolos enigmáticos, que deixam claro
que não se tratam de homicídios quaisquer. Além do mais, os requintes de
crueldade (tanto do assassino quanto de Libba, que descreve tudo nos mínimos
detalhes), me deixaram curiosa e amedrontada. Às eu estava lendo o livro à
noite e tinha que parar e deixar pro dia seguinte por medo de ter pesadelos (embora
não quisesse largá-lo por nada, visto que eu precisava MUITO saber o que ia
acontecer). Embora a trilogia Gemma Doyle, trabalho anterior da autora, também
flertasse com o sobrenatural e o macabro, nada me preparou para o que veio
nessa.
Mas, Libba conseguiu balancear
esse peso com a atmosfera da década de 1920, com suas melindrosas, jazz e
festas a lá Gatsby. A autora reconstrói a NY daquela época nos mínimos
detalhes, nos transportando para aquele tempo. Algo que eu achei
interessantíssimo foram as diferentes faces da cidade e classes sociais
exploradas por Libba. De um lado os ricos e abastados que frequentavam o
Follies e os bares dos porões; e de outro, os mais humildes, que moravam na
periferia e eram os empregados e funcionários dos locais frequentados pela
elite. Temos ainda uma comunidade de fanáticos religiosos, os comunistas, os
imigrantes, o começo de Chinatown e por aí vai... Os EUA e, consequentemente
NY, não eram ainda a potência que são hoje, embora o pós-guerra (época do
livro) tenha sido um dos momentos cruciais para o crescimento do país, e isso é
muito bem retratado aqui.
No decorrer do livro somos
apresentados não só aos dons de Evie, mas também aos de Theta, Memphis
Campbell, Sam Lloyd, entre outros. Todos têm poderes sobrenaturais e, de uma
maneira ou de outra, se veem ligados aos casos de assassinato, que também lidam
com o sobrenatural. Isso me remeteu a algo tratado num livro que li há muito
tempo, chamado Kiki Strike e a Cidade das
Sombras, que lida com a premissa de que existe uma NY escondida (nesse
caso, uma outra NY literalmente embaixo de Manhattan). Todas essas pessoas
tentando esconder seus poderes sobrenaturais me deram a impressão de que existe
uma NY mais sombria e misteriosa por trás das luzes das fachadas da Broadway.
Mas, isso foi algo que contribuiu
para que eu, por vezes, ficasse um pouco cansada da leitura. O livro todo é
narrado sob diferentes pontos de vista, tanto os dos protagonistas, quanto das
vítimas dos crimes. O problema é que são MUITAS pessoas, tanto que eu levei um
tempo para me acostumar com a narrativa e entender quem era quem. Fora que,
muitas vezes, essa alternância em ponto de vista atrapalhava o fluxo de
acontecimentos e descobertas importantes que tinham sido feitas em capítulos
anteriores, o que fez com que eu pulasse alguns capítulos pra não perder o fio
da meada. Só que: tudo isso é importante. Embora Evie seja a maior
protagonista, não tem como negar que todos os outros têm papéis tão importantes
quanto os dela e é por meio deles que podemos ter uma percepção ampliada da
história e da cidade.
No geral, a leitura é
satisfatória. As descobertas e os mistérios vão se desenrolando rapidamente, de
modo que você não quer largar o livro de jeito algum. A trama principal termina
bem fechadinha, mas ainda sobram algumas arestas que, provavelmente, vão ser
aparadas nos próximos livros. Os
Videntes é o primeiro de uma trilogia, sendo o único lançado no Brasil, por
enquanto.
Vem dançar charlestone também!
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