Muitas pessoas me indicam filmes
do Wes Anderson. A
questão é que eu assisti alguns desses filmes e não achei nada
de extraordinário. Até que um amigo me indicou The Grand Budapest Hotel porque,
segundo ele, era a minha cara. Eu simplesmente deixei passar até que semana
passada comecei a fazer a maratona pré-Oscar e, como esse é um dos indicados a
melhor filme, acabei assistindo (sem saber que era um filme do Wes). Acontece
que The Grand Budapest Hotel
realmente é a minha cara.
O filme começa com uma garota
lendo um livro narrado por alguém conhecido como O Autor. Ele conta a história
de uma viagem que fez ao Grand Budapest Hotel quando era mais novo. Logo
descobrimos que o principal tema do filme é, na verdade, uma história contada
ao Autor por outra pessoa, o dono do hotel. E é aí que a aventura começa.
A história de Zero Moustafa
começa quando ele era apenas um simples empregado do hotel, algo como o
carregador de malas. Ele acaba se tornando o protegido de Monsieur Gustave H.,
o concierge do hotel que “entretém” as hóspedes mais idosas nas horas vagas.
Acontece que uma dessas mulheres falece (sob circunstâncias misteriosas) e
deixa em seu testamento um quadro inestimável para ele. É claro que a família
da senhora não fica nada feliz com isso, o que leva o filho mais velho a
incriminar Gustave por sua morte. Então, ele busca a ajuda de Zero para escapar
da prisão e descobrir o verdadeiro culpado pelo assassinato. Tudo se passa em Zubrowska,
um país fictício que enfrenta uma guerra.
A história é super original e
completamente louca, de modo que ás vezes fica difícil de acreditar no que
acontece (o que, a meu ver, é a maior graça do filme). Ainda assim, existem
alguns pontos em que fica claro que muito daquilo foi baseado na vida real e em
um período importante na história da Europa, o que torna tudo mais doloroso,
principalmente o final. Ao terminar o filme, fiquei com uma certa nostalgia
daquilo que nunca vivi. Daquela época do glamour e da elegância. Tenho certeza
que vocês conseguem visualizar ao que me refiro.
Como em todos os filmes de Wes,
tudo aqui é excêntrico. Desde o suntuoso hotel (cuja fachada é cor de rosa),
até os personagens. Cada um mais caricato que o outro (rola até bigode
desenhado a lápis) e que, para mim, são o maior charme do filme. Zero e Gustave
são tão fofos e bem construídos que é impossível não se importar com eles e
criar um certo vínculo. Assim como o próprio hotel, que é tão personagem do
filme quanto qualquer outro.
Por se passar em um local
fictício, Wes pôde dar umas piradas no cenário e na caracterização (como ele
sempre faz). Embora tudo seja crível (vide o quadro do Klimt no chão da casa de
Madame D), o perfume da fantasia persiste. Seja pela existência da Sociedade
das Chaves Cruzadas, por exemplo, ou
pelos eventos mirabolantes que ocorrem durante o filme (que não irei citar
porque seria spoiler).
Acontece que eu assisti esse
filme logo depois de ver Boyhood, também concorrendo ao Oscar de Melhor Filme.
Pra quem não sabe, esse filme levou doze anos para ser gravado porque o diretor
queria acompanhar o crescimento do ator/personagem principal (e,
consequentemente, de todos os outros). Pessoalmente, estou torcendo para que o
Hotel ganhe, embora ache que Boyhood tem mais chances. A questão é: por que
torço por um e não pelo outro?
Eu poderia dizer que é porque
odiei Boyhood com todas as forças do meu ser (o que é verdade). Mas na verdade
é muito mais uma questão de o que cada um representa do que pelo filme em si.
Enquanto um vem dessa longa tradição de busca pela realidade, o outro preza,
basicamente, pela fantasia. E eu não sou uma dessas pessoas que procura
realidade no cinema. Verossimilhança sim - e isso podemos encontrar em The
Grand Budapest Hotel - mas realidade pura e simplesmente, não.
Sou do time que pensa: pra que
retratar o real (não vou entrar na discussão de que o real nunca vai poder ser
apreendido de fato, mas espero que compreendam o que quero dizer) se a vida
taí, firme e forte (e é muito mais estranha que a ficção, como já diz o
ditado)? Pra mim o cinema tem que ser sobre o fantástico, a ilusão, o sonho.
Cenários que não têm compromisso com a realidade (quando muito são apenas
alusões aos verdadeiros), figurinos e caracterizações espalhafatosas, trilha
sonora teatral etc etc. Mas principalmente o enredo, a história. Para mim o
cinema é a arte de contar histórias.
Por que não nos dar as sociedades
secretas de concierges, os roubos de arte internacional, os capangas mal
intencionados? Desculpem-me os primeiros beijos, os divórcios, o bullying e
tudo mais, mas eu fico com os castelos. Passar bem.
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