sábado, 22 de abril de 2017

É aqui que falam de beiseball?

Ginny Baker é uma garota comum... A não ser o fato de ser a primeira mulher contratada por uma grande liga de beiseball. Pitch vai acompanhar a entrada dela para a equipe do San Diego Padres, bem como a jornada que a levou até ali. 
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uma rainha dessas, bicho
Ginny começou a treinar em casa quando era bem pequena. Ex-jogador de baseball, o pai queria que o filho, irmão de Ginny, seguisse seus passos, mas ele não estava muito interessado. Mas, para sua surpresa, Ginny estava e ainda tinha um talento surpreendente para o esporte. Assim, ele começou a treiná-la por conta própria e logo conseguiu colocá-la em um time.  

Ginny se torna tão boa que é convidada a participar da liga principal de baseball, algo como a série A do futebol (aquelas que não entendem nada de baseball e tem que ficar se baseando em fut), convite que ela aceita, é claro. A entrada dela no Padres é um escândalo midiático. Todos querem vê-la, tirar fotos, conseguir entrevistas etc. E é, claro, em se tratando da mídia machista que temos, principalmente a voltada para o esporte, eles mal perdem por esperar o primeiro deslize dela. Mas, felizmente, para isso ela tem a ajuda de sua agente, uma mulher que não vai medir esforços para torná-la a maior jogadora de baseball de todos os tempos (mesmo sem nunca ter assistido um jogo na vida, eu mesma), e também alavancar sua própria carreira no processo. 

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militei
Até aí tudo bem, era de se esperar ? Mas o que acaba realmente mexendo com Ginny é a resposta do público. Ela vira a inspiração para todas as garotinhas dos EUA que agora sabem que sim, é possível vencer num esporte até então totalmente masculino. A gente vive falando que representatividade importa (e importa sim, é claro), mas nem sempre pensamos no que as pessoas que carregam essa representatividade nas costas têm que enfrentar. Em Pith, acompanhamos esse e tantos outros dramas de Ginny para além do esporte e, para mim, esse é um dos maiores méritos da série. 

Ao longo dos episódios, vamos descobrindo mais sobre ela, por meio de flashbacks que nos contam como ela chegou até ali, além de acompanhar seu presente e tudo pelo que ela passa. A pressão da mídia, dos companheiros de time, que em sua maioria não estão nem um pouco felizes com a entrada de uma mulher na equipe, do técnico que a quer no banco e, de preferência, fora do time, além de toda a responsabilidade de ser um exemplo para criancinhas por aí. Ginny não foge da responsabilidade e é uma personagem MARAVILHOSA: forte, determinada e dedicada, mas ainda assim HUMANA, uma pessoa que comete erros como qualquer outra. O interessante é vê-la no spotlight, apanhando de todos os lados, mas sempre dando a melhor face, de cabeça erguida. Fica impossível não torcer por ela. Força, miga, força! <3

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samba mais que tá pouco

E vocês querem notícia boa? Eu não entendo um pingo de baseball e amando. Se você é que nem eu, pode ver sem medo! Vai que até o final da temporada a gente aprende alguma coisa (mesmo assim, já quero a brusinha do time com nome da Ginny #prioridades). A série ainda não foi renovada, mas essa primeira temporada é curtinha e é uma delíciaaaa, vale a pena!



quinta-feira, 6 de abril de 2017

Lilibeth na biblioteca



Confesso que depois que assisti The Crown (série da Netflix) passei a me sentir a própria amiga pessoal da Rainha Elizabeth. Lilibeth, para os íntimos. Por isso, lembrei que tinha um livrinho sobre ela esquecido em algum canto da estante e resolvi dar uma chance. Foi assim que me apaixonei por Uma Real Leitora.

Aqui, Lilibeth já é a Rainha que todos conhecemos e respeitamos, com décadas de trono no currículo. De The Crown pra cá muitas coisas mudaram, menos seu amor por Corgis. Um belo dia, seus amados catiorrinhos não param de latir e, indo ver do que se trata, ela se depara com um furgão estacionado nas dependências do Palácio de Buckingham. É a Biblioteca Itinerante de Westminster, que para ali toda semana, sem atrair muito público. Pedindo desculpas pelo estardalhaço dos bichos, a Rainha se vê praticamente obrigada a dar uma chance ao projeto e, mesmo sem nunca ter dado muita bola (ou ter tido muito tempo disponível) pra leitura, sai dali carregando um livro, que acaba nem lendo. Mas ao ir devolvê-lo, ela se vê pegando outro e quando se depara com um momento de tédio entre um dever e outro, ela começa a ler.

Logo, a Rainha se torna uma leitora voraz, navegando por autores e livros cada vez mais complexos, pois, como ela mesma diz "a leitura era, entre outras coisas, um músculo e um músculo que aparentemente era preciso exercitar". Algo que passa a incomodar a criadagem (infelizmente ainda estou vivendo na década de 1950), pois ela começa a negligenciar alguns de seus deveres e compromissos em detrimento da leitura. Os hábitos literários da Rainha se tornam praticamente incidentes de Estado e os mais próximos fazem de tudo para desviá-la, sempre falhando na missão. Mal sabiam eles que a leitura, que eles tanto odiaram, levariam Vossa Majestade a algo ainda pior...

O final do livro foi uma grata surpresa. Ele veio sendo construído aos poucos e era até previsível, mas no último segundo, Alan Bennett jogou um plot twist na nossa cara e eu fechei o livro satisfeita (e secretamente torcendo para que aquilo acontecesse na vida real também). Aliás, toda a leitura é extremamente prazerosa, visto que a escrita de Alan é irreverente e em muitos momentos faz uma pequena sátira à realeza. O mais interessante, porém, é ver como todas essas pessoas cultas e nobres não leem tanto quanto nós, reles mortais (pelo menos no livro) e tem verdadeira abominação ao hábito da leitura.

Além disso, é bonito ver como nunca é tarde para fazer aquilo de que se gosta ou começar algo novo. Aqui, a Rainha beira seus 80 anos e é só então que descobre uma nova paixão e se dedica a ela (ou que faz alguma coisa que ela realmente quer desde que assumiu a coroa...........), tendo sua vida transformada. Mesmo tendo vivido tanto e visto tantas coisas, novos mundos se abrem à sua frente e, por ler tanto sobre os sentimentos e angústias de outras pessoas, a Rainha consegue se colocar no lugar do outro, se tornando cada vez mais atenciosa para com os demais.

Terminei a leitura grata por reencontrar minha amiga Lilibeth e ainda mais ansiosa pela segunda temporada de The Crown (caso alguém não tenha pego a indireta: ASSISTAM THE CROWN). Apesar de ser tudo muito engraçado e divertido, o livro traz uma bela mensagem: sempre há tempo para aprender alguma coisa, não é mesmo? Se a Rainha Elizabeth II conseguiu, nós também conseguiremos.


quarta-feira, 22 de março de 2017

Pinky Wednesday: Os filmes de Makoto Shinkai



Existe animação além da Disney. Temos o Studio Ghibli, por exemplo. Mas, no Japão, existe muita animação (e de qualidade) além do Ghibli. É aí que entra Makoto Shinkai.

Makoto é um cineasta japonês que roteiriza, produz e dirige filmes de animação. Eu diria que ele tem uma carreira peculiar, visto que vai desde os longas mais elaborados, aos curtas mais rudimentares, tecnicamente falando. Mas, mesmo assim, sua obra vale a pena porque, independentemente da qualidade da animação, todas suas histórias são tocantes e contemplativas, daquelas que vão te deixar refletindo durante um longo tempo depois de assistir. E ah, quando ele decide fazer alguma coisa bem... Sai da frente que a rainha quer passar.

Seus filmes tratam de temas parecidos, embora cada um tenha uma solução diferente. Encontros e desencontros, acaso e destino, chegada e despedida. Ele junta tudo isso, as coisas pelas quais passamos todos os dias, nosso cotidiano, com ficção científica e até realismo fantástico. Não é incomum termos a presença de corpos celestes como cometas, estrelas e afins, bem como foguetes e naves espaciais. Além, é claro, do misticismo japonês e suas religiões e crenças, como o Xintoísmo. E embora tudo isso se passe num contexto nipônico, com referências completamente distintas das nossas, é impossível não se identificar com uma história ou outra, um personagem aqui e outro ali, porque, acima de tudo, são histórias muito humanas.

O interessante é que os filmes de Makoto parecem ser partes de um todo. Depois de assistir alguns deles, você se pega pensando, comparando, avaliando e, principalmente, sentindo muito (feeling feeligns since 1994). Não sei dizer se ele está fazendo tudo isso conscientemente ou não, mas me parece que sua filmografia é um grande ciclo. Um filme parece ser uma resposta ao outro; um parece ser a continuação de outro e assim por diante. São diferentes faces da realidade porque, afinal de contas, nada é estático. Nós manipulamos e maleamos nossos dias, mesmo que sem perceber. 

Portanto, creio que cada pessoa assiste esses filmes de alguma forma, em alguma ordem. E eu queria mostrar a minha pra vocês, dos filmes que, pra mim, são os principais. Se você ainda não foi iniciado no maravilhoso mundo de Makoto Shinkai, sinta-se à vontade pra começar por onde quiser e, caso queira, pode começar pela minha listinha. Só não esquece de vir comentar comigo o que achou depois, ok?

Voices of a Distant Star
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cries in fangirl language
Em 2047, a Terra está em guerra com os alienígenas que destruíram o projeto de exploração de Marte. Mikako e Noburu são amigos que sempre estudaram juntos, até que ela é selecionada para pilotar uma nave na missão que pretende destruir os aliens. No espaço, sua única forma de comunicação com a Terra é via e-mail, mas conforme ela vai se embrenhando pelos sistemas e galáxias, esses e-mails vão demorando cada vez mais tempo pra chegar. Assim, por mais que cada um esteja sozinho em seu lugar no universo, eles permanecem juntos, em pensamento. Algumas coisas transcendem outras, alguns laços são impossíveis de quebrar... Felizmente.

Esse é um curta do começo de sua carreira e, embora os cenários e a atmosfera sejam lindos (marca registrada do diretor), o character design (ou seja, o desenho dos personagens) é bemmm mal feito. Mas isso se explica por esse curta ser praticamente uma produção caseira, feita por ele e sua esposa meio que na marra. Eles acabaram até dublando os personagens. Mas não desiste não, prometo que melhora!

5 Centímetros por Segundo
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dói tanto, mas tão bonitas as imagem.........
 Takaki e Akari são amigos de escola muito próximos (eu disse que os temas eram parecidos..) que acabam sendo separados quando Akari precisa se mudar. A história é contada em três atos, seguindo as fases da vida de Takaki, desde quando conhece Akari na infância, passando pela adolescência e seus novos amigos, até a fase adulta, quando vemos que Takaki ainda não superou Akari que, além de sua amiga, foi também seu primeiro amor. É interessante perceber como esse encontro entre Takaki e Akari continua afetando suas vidas (principalmente a dele) e, consequentemente, também as daqueles ao seu redor. Mas, ninguém pode dizer que eles não tentaram. Eles continuam trocando cartas e mensagens e tentando se encontrar vez ou outra, mas, ás vezes, não é suficiente. Ás vezes, a vida simplesmente acontece.

Se, após assistir Voices of a Distant Star você persistiu, aqui está sua recompensa. Esse é um dos filmes mais delicados, sensíveis e bonitos que eu já assisti, em todos os aspectos. Porque além de uma histórica que ressona profundamente em muitos de nós, o filme é esteticamente impecável. Os cenários e as paisagens são absurdamente bem feitos e estonteantes. Você vai querer morar dentro desse mundo. 

Your Name
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um tiro desses, bicho
Mitsuha mora em uma pequena cidade do interior do Japão e mal pode esperar pra sair dali. Taki é um garoto normal de Tóquio. Até que, sem explicação alguma, eles trocam de corpo. Isso mesmo, a menina fica com o corpo do menino e vice-versa. Assim que conseguem entender que aquilo é real, eles estabelecem um sistema pra não bagunçar muito a vida um do outro e acabam se tornando amigos... e talvez até algo a mais. Através dessa experiência, Mitsuha consegue, finalmente sair de sua realidade provinciana, ao passo em que Taki entra em contato com a natureza e com a cultura tradicional japonesa. 

Como eu disse acima, não sabemos por que nem como eles trocaram de corpo. Mas, com o passar da história, vai ficando claro o propósito dessa troca e como ela pode mudar tudo. Não, esse não é mais um Sexta-Feira Muito Louca. Aqui, as apostas são inacreditavelmente mais altas e as consequências podem ou não ser devastadoras. Cabe a Mitsuha e Taki perseverarem. 

Makoto fala sobre o ~tempo~ em grande parte de seus filmes. Em Voices, ele é ao mesmo tempo barreira e alicerce. Em 5cm, ele é distância e memória. Mas aqui... Aqui o tempo é o que você quiser fazer dele. É como se ele fosse uma fita que você pode enrolar em seu dedo quantas vezes quiser e de diversas formas diferentes. O tempo é o que você faz dele. 

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Eu comecei esse post falando de ciclos. E eu acho que Your Name encerrou esse primeiro ciclo do cinema de Makoto Shinkai porque tudo culmina aqui. Ele parece ter explorado todas as possibilidades do tempo, que, pra mim, parece ser o ponto central de suas obras. Outro fator que aponta para isso é que esse foi o filme de maior bilheteria no Japão ano passado, entrando para a lista das 10 maiores bilheterias de todos os tempos no país. Além disso, ele foi distribuído internacionalmente e chegou a ser considerado para o Oscar.

Resumindo: foi o maior sucesso da carreira de Makoto, algo que nem ele esperava. Depois disso tudo, imaginem a expectativa pela próxima obra dele? É por isso que acho que a partir de agora, ele vai passar a explorar outros temas e outras formas de contar uma história, podendo mudar completamente seus filmes.

Mal posso esperar para ver o que vem em seguida!








* Muitos desses filmes estão disponíveis online na Netflix e no Youtube

sábado, 18 de fevereiro de 2017

De Guernsey, com amor



Montanha-russa. Essa é a palavra que melhor descreve esse livro, que comecei a ler assim como quem não quer nada e de repente me vi dando gargalhadas, enxugando algumas lágrimas e, acima de tudo, me apaixonando.

A Sociedade Literária e Torta de Casca de Batata é um romance epistolar. Ou seja: ele é narrado através de cartas, bilhetes e telegramas (vocês lembram que isso existe???) e eu não fazia a MÍNIMA ideia disso. Qual não foi a minha surpresa ao virar as páginas e continuar encontrando cartas atrás de cartas? Às vezes essa história de nem ler a sinopse do livro até que dá certo... A trama se passa na Inglaterra durante o pós-guerra. Os países ainda estão se recuperando da tragédia e Londres, que foi completamente bombardeada, está em escombros. É então que conhecemos Juliet Ashton, escritora que lançou uma bem sucedida coletânea de seus artigos e colunas de jornal escritos durante a guerra.

O problema é que agora ela está empacada. Nenhuma ideia é boa o suficiente, mas ela precisa escrever outro livro. Até que num belo dia, a inspiração chega em sua caixa postal. Ela recebe uma carta de um desconhecido chamado Dawsey, que adquiriu um livro que pertenceu a ela e escreveu pedindo mais informações sobre ele. Logo, Juliet descobre que Dawsey faz parte de uma sociedade literária em sua terra natal, a Ilha de Guernsey, que fica no Canal da Mancha e, mal sabe ela que aquelas cartas proverão um imenso material para seu próximo livro... Com o passar do tempo, ela começa a se corresponder com outros habitantes da ilha e com os demais membros da sociedade, o que lança luz em algo até então praticamente desconhecido por ela (e por mim): a Ocupação Alemã nas Ilhas do Canal.

As Ilhas do Canal da Mancha ficam mais próximas da França e sempre foram propriedade deste país, até serem dadas de presente à Inglaterra. Acontece que as Ilhas continuaram meio independentes do governo Inglês, então, quando elas foram invadidas pela Alemanha, os britânicos nem se mexeram para reverter a situação. Hitler queria fazer daquilo um exemplo do que ele faria com o resto do Reich e, durante anos, os soldados alemães ocuparam as Ilhas, utilizando seus recursos naturais, instituindo toque de recolher, racionamento de suprimentos etc. "Trabalhadores" (mais pra escravos), chamados de Todt, vieram de campos de concentração para trabalhar nas ilhas colocando minas, enquanto os habitantes locais deveriam fazer o que os alemães mandassem. Assim que perceberam que os Alemães estavam vindo, os ilhéus colocaram as crianças em barcos e as mandaram para a Inglaterra, onde estariam mais seguras.

No meio disso tudo, a Sociedade Literária e Torta de Casca de Batata surgiu por acaso. Dawsey e mais algumas pessoas foram comer um porco assado na casa de uma senhora chamada Amelia. Tudo deveria ser feito em sigilo, pois a comida era controlada pelos alemães e esse porco foi escondido. Tudo correu bem, mas, na volta, um grupo acabou sendo pego pelos alemães e para escapar da prisão, Elizabeth inventou que eles estavam na reunião da Sociedade Literária. Os alemães valorizavam muito as manifestações culturais e não as proibiam, na verdade até encorajavam. Então a mentira sobre a sociedade passou, mas eles precisaram ficar espertos porque logo, logo algum alemão apareceria na suposta reunião para comprovar que era verdade. Assim, todos os presentes neste pequeno jantar, começaram a procurar livros pela Ilha (não era tão fácil assim, porque quando todas as árvores foram queimadas e a lenha acabou, os livros passaram a ser queimados para aquecer as pessoas) e realmente passaram a ler e fazer reuniões, esperando o dia em que os alemães gostariam de tirar a prova.

O grupo era variado: fazendeiros, funileiros, ~bruxas~ e toda sorte de pessoas humildes com pouco ou nenhum contato com a leitura. A princípio, ler e debater parece um esforço inútil, mas com o passar do tempo eles vão se acostumando. Mais e mais pessoas vão chegando e se juntando ao grupo e logo a sociedade literária deixa de ser uma farsa e se torna realidade. A partir do momento em que as pessoas percebem que aquilo pode ser um alento em um momento tão delicado, tudo muda. A literatura salvou essas pessoas. Passando fome e frio, assistindo à crueldade dos alemães de mãos atadas, dando adeus à entes queridos e se agarrando à única válvula de escape possível no meio desse inferno na terra: os livros. Através deles, essas pessoas se mantiveram sãs e persistentes, bem como se aproximaram uns dos outros, resistindo, se apoiando umas nas outras e também nas páginas de Charles Lamb, Shakespeare e afins. Tem uma passagem que ilustra bem esse ponto, a saber:
"O modo como eu e Christian nos conhecemos pode ter sido estranho, mas nossa amizade não foi. Tenho certeza de que muitos ilhéus se tornaram amigos de alguns soldados. Mas, às vezes, penso em Charles Lamb e fico maravilhado com o fato de que um homem nascido em 1775 tenha permitido que eu me tornasse amigo de pessoas como a senhorita e Christian."

É tão bonito perceber como algo tão simples quanto um livro pode mudar a vida das pessoas. É também um tapa na cara, porque, enquanto para alguns um livro pode ser algo corriqueiro e simples (como eu mesma disse acima), quando não se tem nada, ele pode ser tudo. Essas pessoas estavam apenas sobrevivendo até encontrarem a literatura e passarem a viver realmente, viajando para lugares e tempos diferentes daquele horror em que estavam inseridos, por meio dos livros. Ao lermos suas cartas, vamos conhecendo cada uma dessas pessoas, desvendando suas histórias e segredos e percebendo como a vida de cada um foi mudada por essas obras. As autoras conseguiram nos apresentar personagens dos mais diversos, com gostos e personalidades diferentes, cada uma delas clara como o dia em suas próprias palavras. Eu só queria adotar todos eles e trocar indicações de livros. Porém, a personagem principal do livro talvez não seja uma pessoa, mas sim a própria Ilha de Guernsey. Juliet não se vê interessada somente pelas histórias dos ilhéus, o habitat natural dessas pessoas também a seduz, com suas praias, penhascos e bosques. A ilha também sofreu as consequências da guerra, tendo quase toda sua vegetação destruída e a maioria das mansões e hotéis sucateados pelo uso indevido feito pelos alemães. Mas mesmo assim, ao chegar lá, Juliet percebe que é um dos lugares mais incríveis que ela já conheceu.

É impossível não se encantar com essas pessoas e esse lugar. Ao final da leitura eu só queria fazer parte da Sociedade Literária e morar em Guernsey. Creio que todos que gostam de ler vão se identificar com essa história, que fala do poder dos livros. De como eles podem ser alento e alicerce, transformação e unificação. A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata é, acima de tudo, uma celebração da literatura. 


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Quantas calorias cabem numa revista de moda?


Livros são momentos. Depois de ler dois livros péssimos (um atrás do outro), eu precisava de algo leve, mas ainda interessante, para restaurar minha fé na humanidade e na literatura. Talvez tenha sido por isso que gostei tanto de A Modelo do Ano. Foi o momento certo de ler esse livro.

A história começa de trás pra frente, quando somos apresentados à Mac Croft, uma supermodelo que, recentemente, foi capa da Sports Illustrated, revista famosa que é um trunfo para a carreira de qualquer uma e que, basicamente, atesta que você tem um dos melhores corpos da indústria. Encontramos Mac no aeroporto, quando está prestes a embarcar na primeira classe (a convite de Calvin Klein) e é reconhecida por uma fã, que também quer ser modelo e se espelha nela. Mac responde às perguntas deslumbradas da garota, ao mesmo tempo em que pensa consigo mesma o quanto ela trabalhou para chegar até ali. E é aí que tudo começa.

Oito meses atrás, Melody Ann Croft é uma garota que acabou de terminar o colegial e trabalha como garçonete em sua pequena cidade para juntar algum dinheiro, caso a bolsa que ganhou para a Universidade da Pensilvânia acabe não acontecendo. Melody sempre foi atlética, tendo participado de torneios de tênis e sendo capaz de acabar com seus irmãos no basquete, mas o que ela realmente quer é ser uma médica ou nutricionista da área dos esportes. Até que num belo dia (ou melhor, noite), ela acaba atendendo um cliente excêntrico, que fica encantado por ela. Melody tenta despistá-lo, achando-o até um tanto inconveniente, mas tudo fica explicado quando ele se revela como um famoso fotógrafo do mundo da moda que a acha perfeita para ser modelo. Assim, ele lhe entrega alguns cartões de agências de modelo e praticamente suplica para que entre em contato com elas, podendo dizer até mesmo que foi mandada por ele.

Mas Melody é uma menina centrada e está determinada a cursar a faculdade que tanto sonha. Ela reluta um pouco, mas analisando pelo lado financeiro, até que seria bom ganhar mais algum dinheiro para custear seus estudos, não é mesmo? Logo, ela marca algumas entrevistas e vai para Nova York atrás delas. Para sua surpresa, ela é aceita logo de cara na primeira agência em que entra e em questão de dias já está indo a seu primeiro go-see. Porém, Melody sempre foi uma esportista, então nem um go-see ela sabe o que é! (é o que equivalente a audição dos atores, as modelos vão no set das fotos para ver se vão servir para aquele ensaio) Mas, chegando lá, ela acaba sendo aceita mais por falta de opção mesmo... e tem que fotografar ali mesmo. Por sorte, uma das modelos acaba se tornando sua aliada, dando dicas e toques sobre o trabalho. Aos 19 anos, Jade Bishop tem 15 de carreira, visto que foi modelo infantil e nunca mais parou (na minha cabeça ela é a Gigi Hadid e Melody é a Bella Hadid, que inclusive foi eleita a modelo do ano de 2016 #gossipgirl). E assim começa a carreira de Melody Ann Croft.

O interessante do livro é vermos o desenvolvimento de Melody e sua carreira e como ela, enfim, se torna Mac, a modelo do ano. Ela começa como uma menina ingênua que só está ali para ganhar uns trocados, mas com o tempo e a experiência, ela vai percebendo como aquele meio é fabuloso, mas ao mesmo tempo cruel. As coisas levam seu tempo pra acontecer, ela não de adapta de cara, não ama a profissão de cara. Tudo é muito natural. E nós simpatizamos com ela.

Mac é uma menina muito correta e muito centrada, determinada a se manter nos eixos e lutar por seu futuro. Nós torcemos pra que ela consiga os trabalhos, nos preocupamos com ela quando se mete em enrrascadas e sofremos com ela quando a indústria da moda se mostra menos florida do que os vestidos de primavera de Dolce & Gabanna. Claro que, ás vezes, ela deixa a desejar um pouco e eu me vi sacudindo o livro em alguns momentos pra ver se ela acordava, mas só porque me importo demais com ela #bffs. Ela contrasta muito com as outras modelos apresentadas e, principalmente com Jade, que acaba se tornando sua melhor amiga.

Jade é inconsequente, volátil, um tantinho invejosa e, infelizmente: ela é um perigo para si mesma. Mac faz o que pode para ajudar a amiga, mas como salvar alguém que não quer ser salva? A amizade delas foi, inclusive, uma das melhores partes do livro. Conforme a carreira de Mac vai avançando, ela precisa passar mais e mais tempo em Nova York e acaba buscando refúgio na casa de Jade, que mora praticamente sozinha. Vemos as duas em momentos de trabalho, mas também nas pausas para chá gelado entre um ensaio e outro, nas festas depois da Fashion Week, nas viagens a trabalho etc. É bonito de ver como cada uma é leal à outra, de seu próprio jeito, e como a amizade delas vai evoluindo, a ponto de ambas serem o que a outra tem de mais real nessa indústria louca.

Como disse anteriormente, eu precisava de uma leitura leve e, até certo ponto, A Modelo do Ano foi assim. Porém, quando o livro vai chegando em sua reta final, as coisas vão ficando mais tensas, mas foi algo tão bem construído pela narrativa, que eu não liguei. Pelo contrário, só queria devorar logo o restante pra saber no que aquilo ia dar. Devo dizer que fiquei um pouquinho decepcionada porque achei a resolução das coisas meio apressada e sem propósito. Fiquei com a impressão de que teriam cortado a autora, porque do jeito que ia, ainda dava pra elaborar mais a história e sem perder a graça. Acabou que a história ficou meio em aberto, porque juntando o final com o prólogo do começo, parece que Mac estalou os dedos e virou a nova Gisele. Não quero dar spoiler, mas fiquei especialmente incomodada com algo muito importante que simplesmente FOI ESQUECIDO NO CHURRASCO.....................

Enfim, apesar dos pesares, A Modelo do Ano é um livro delicioso, que você consegue devorar rapidamente porque os personagens são extremamente cativantes e excêntricos e a história em si é envolvente. Você vai rir, se estressar, ficar tensa e desejar desfilar as mais novas coleções da semana de moda da Itália pra ir na padaria da esquina.

PS: Será que em 2017 conseguimos atualizar o blog com frequência? #batuquemos