domingo, 2 de outubro de 2016

Amor Amargo

     "E, mais uma vez, me passou pela cabeça que ali estava a chance de eu abrir o jogo. Ali estava a chance de falar sobre o que tinha acontecido.  De ouvir conselhos. De chorar por continuar amando-o e por estar preocupada que talvez ele estivesse tão bravo que jamais voltaria a me procurar. E de jeito nenhum, ser aquela garota, aquela de quem todo mundo sente pena pois não é forte o bastante para conseguir deixar de amar o cara que a maltratou. 
Mas, assim como das outras vezes, abrir o jogo pareceu uma má ideia. Eu sabia que, mais do que nunca, faria tudo o que estivesse ao meu alcance para impedir que aquilo se repetisse. E, se abrisse a boca agora, todos passariam a odiá-lo e, quando ele se arrependesse do que tinha feito, ficaria tão decepcionado comigo que eu o perderia de vez. O caroço subia, pulsando e implorando pra sair, mas eu não podia expeli-lo. Precisava mantê-lo ali dentro, oscilante, porém seguro." (BROWN, 2015, p.153).


Amor Amargo... Que livro difícil de ler. Sabe quando você se sente amiga da personagem principal e sente incapacitada de dar uns sacodes nela e pedir pra ela parar com isso? De só querer dar um abraço nela e dizer que vai ficar tudo bem? Quando você só quer dar as mãos para os, também, amigos dela de infância para conversarmos e tentarmos pensar o melhor jeito de tirar ela dessa situação? Então. Isso é Amor Amargo.

Meu amor pela Jennifer Brown começa por A Lista Negra e desde então eu espero ansiosa o lançamento de todos os livros dessa autora. Ganhei o livro de presente no Clube do Livro da Gutenberg uns meses atrás. Quase chorei de alegria e agradeci a menina por vários minutos, pois finalmente estava com o novo livro dessa autora maravilhosa em mãos! Não esperei e comecei a ler o mais depressa possível. Acabei o livro em lágrimas, meu único arrependimento foi de não ter lido ele antes.  No Clube do Livro para tratar sobre a história eu fiquei presa no trânsito do Rio de Janeiro. Sim, perdi a chance de debater a história e esse tema super importante por causa do trânsito. Obrigada, Olímpiadas! Fiquei muito triste, fiquei tentada a chorar ao descer do ônibus no meio do caminho para voltar pra casa. Tinha tantas coisas para falar, tantas coisas para debater... Queria saber se as pessoas entenderam a Alex como eu entendi, se elas ficaram com o sentimento ruim ao lembrar de todas as vezes que julgaram outras mulheres por viverem nesse tipo de relacionamento... Tantas coisas... Tantos assuntos que esse livro me fez pensar...

Mas enfim. O livro trata sobre relacionamento abusivo e aborda com bastante sensibilidade o assunto. Conta a história de Alex, adolescente do ensino médio que perdeu a mãe quando criança e desde então, sonha em conhecer o Colorado, lugar em que sua mãe iria fugir se não fosse o acidente que tirou a sua vida. Ela planeja a viagem de formatura com seus dois melhores amigos, Zach e Bethany, para tentar descobrir o que há de importante lá. Alex trabalha em uma lanchonete para pagar essa viagem e possui um relacionamento distante com o pai e as irmãs, o seu apoio são os seus amigos de infância.

No último ano da escola, próximo da viagem, Cole chega à escola. O famoso boy lindo, maravilhoso, atleta e que parece entendê-la como ninguém. O garoto é transferido de outra cidade e apresenta ser o que ela sempre desejou. Por ser monitora de Inglês no colégio, ela passa a dar aulas de reforço para ele, assim, o conhecendo melhor. Ela fica encantada por ele já no primeiro encontro, pois Cole é aparentemente perfeito e dá atenção pra ela como ninguém tinha feito antes.

Com essa aproximação, os dois começam um relacionamento e tudo parece ser um conto de fadas. Você até pensa "nossa, ele realmente é fofo", porém ao começar o namoro as coisas mudam. De início sempre aparenta ser uma brincadeira e algo que se pode deixar passar, porém ele dá atenção pra ela, né? Além disso tudo, ele é um gato e atleta, o que pode ter demais uma brincadeirinha de mau gosto? Esse é o pensamento de Alex e infelizmente, talvez possamos pensar isso também. Ele se mostra ciumento e possessivo aos poucos, você nem repara os níveis de controlador que ele vai se tornando.

É interessante ver no livro o passo a passo da transformação do Cole no relacionamento dos dois, as pistas que ele dá ao mostrar que é um abusador e os sentimentos por quais a Alex passa. Vamos sentindo junto com ela o quanto ele está mudando o seu jeito de agir e as mudanças da sua relação com os amigos.

Cole simplesmente não gosta de ver Alex conversando com o Zach, questiona a quantidade de tempo que ela passa com os seus amigos e os abusos começam com simples palavras, e depois vão aumentando para mudanças bruscas de humor e a punindo por coisas que ele não acha aceitável. Porém, Alex o ama e sempre cria uma justificativa para as suas ações, até o ponto em que acredita que a culpa é dela e que não deve falar para ninguém. Começa a questionar a si mesma e de suas capacidades e também, a amizade com  Zach e Bethany. 

O livro é pesado ao vermos os pensamentos dela, os seus sentimentos feridos e as soluções que ela tenta montar na cabeça. Só fiquei pensando nas milhares de mulheres que passam por essa situação e não sabem o que fazer. Fiquei fascinada pela escrita da autora e de como ela fez a  gente entender cada sentimento. Então fui pesquisar. Jennifer Brown é formada em psicologia e na faculdade participou de um projeto de pesquisa sobre violência doméstica. Então, ela sabia como abordar esse assunto.

Esse é uma daquelas histórias que você quer que todo mundo leia. Todo mundo vai se identificar com essa situação, vai lembrar de alguém que já viveu por isso ou talvez, vai ficar imaginando se suas amigas/amigos estão passando por isso e você ainda não percebeu. Se você já leu o livro, vamos conversar sobre! Comente se você também sentiu alguma dessas coisas! 

      

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